Prof. Ilidio Vale ao JN

Susana Silva, fez esta belíssima entrevista ao Prof. Ilidio Vale, Treinador, CAMPEÃO dos juniores A do FC do Porto.
Pela sua actualidade ,interesse e pelo entrevistado, merece ser lida

"OBJECTIVOS CONCRETIZADOS
"Somos campeões da qualidade"

Ilídio Vale sagrou-se ontem campeão pelo F.C. Porto, mas não sabe se continua na próxima época




foto de RICARDO JUNIOR/O JOGO


Ilídio Vale, 49 anos, conquistou mais um título como técnico ao serviço da formação do F. C. Porto. O 19.º no historial da equipa de juniores A. Mas muitos outros ajudou a vencer ao longo de mais de 18 anos de trabalho no departamento de formação dos azuis e brancos. Embora o seu nome seja sempre associado aos dragões, foi no Nogueirense que iniciou a carreira de treinador.



Com a sensação de dever cumprido, no final do jogo que garantiu ao F. C.Porto a vitória no Campeonato Nacional de Juniores A da 1.ª Divisão, Ilídio Vale fez o balanço da temporada. JNEste título foi difícil. Contra tudo e contra todos?



Ilídio ValeMuito difícil. Não sei se foi contra tudo e contra todos, mas pelo menos contra os nossos adversários foi. O campeonato foi muito competitivo, mas ao longo da época fomos a melhor equipa nas duas fases. O campeão foi aquele que mais fez e trabalhou.



Campeão da regularidade?



Da regularidade e da qualidade.



A quem o dedica?



Aos meus jogadores, departamento de formação do F. C. Porto, presidente e respectiva Direcção, ao sr. Joaquim Pinheiro e aos meus amigos que me ajudaram nos momentos mais críticos. E aos meus treinadores e staff.



O que está na base do sucesso desta equipa?



A qualidade de trabalho, não só no domínio técnico e táctico, mas também no psicológico. Foi um investimento muito grande ao longo de uma época para preparar os jogadores e uma equipa que pudesse ser campeã. Portanto, estamos muito satisfeitos pelo trabalho desenvolvido.



Os jogadores souberam corresponder às exigências?



Foram excepcionais. Estão preparados para qualquer futebol e particularmente para o de elite. A grande maioria dele está preparada para enfrentar esse desafio e espero, sinceramente, que tenham muito sucesso.



Como foi gerir um plantel de apenas 22 jogadores?



Mais uma vez, pela qualidade do trabalho. O treinador tem de encontrar soluções e não problemas. Tem de ter capacidade para encontrar soluções a partir do momento em que conhece o plantel, mais ou menos numeroso. Estava perfeitamente identificado com o grupo e sabia exactamente para onde queria ir.



A equipa evoluiu?



Todos os jogos que tínhamos definido como fundamental vencer, vencemos. Apenas não ganhámos um, com o Benfica, porque fomos infelizes. Foi um sinal de que, do ponto de vista da maturidade, estavam a crescer. Colectivamente, evoluíram imenso e são uma equipa forte.



Qual foi o melhor momento?



Sem dúvida que este é o melhor. É o culminar de um trabalho de um ano. Mas estes jogadores são resultado de um trabalho que vem de trás e teve a participação de vários treinadores e gente anónima. O facto de sermos campeões nunca é um trabalho individual. Coube-me a mim acabá- -lo com sucesso.



E o pior?



O jogo com a União de Leiria. Perdemos merecidamente, pois foi aquele em que tivemos menos oportunidades de golo. Em todos os jogos criámos muitas ocasiões. Isso é sinal de qualidade, pois somos os melhores ataque e defesa.



Os atletas têm qualidade, são internacionais, mas ainda não tinham ganho um título. Como deu a volta a essa pressão?



Disse-lhes que o facto de não terem ganho nada não era significativo. O contexto é diferente, estão mais velhos e maduros, mais bem preparados. E, se querem ser jogadores de elite, têm de demonstrar todos os dias ter mentalidade de campeão. Tentar ser melhor do que no dia anterior.



Neste escalão é importante haver uma maior interacção com a equipa principal?



É fundamental haver essa aproximação e perceberem que o clube tem apenas um futebol. Este ano o que aconteceu já foi um sinal muito positivo e podemos evoluir mais a esse nível.



Que tal foi a experiência de regressar ao banco?



Do ponto de vista emocional gosto mais desta função porque sou emotivo. Indiscutivelmente era um grande desafio treinar a equipa de juniores do F. C. Porto.



Ser campeão foi o maior desafio?



Sim. Era um desafio muito grande e que o troquei por vários projectos. Foi uma aposta clara. Tinha um compromisso com estes jogadores. Disse-lhes que íamos ser campeões no primeiro dia que entrei no balneário.



Vai continuar nos juniores?



Não sei. Essas coisas não dependem só de mim, mas também de quem dirige. E é dirigido por pessoas inteligentes e que decidem o melhor para o clube. É uma coisa que, no momento, não me apetece pensar. Apenas quero saborear o que foi um ano de trabalho e culminou, felizmente, com a vitória.



"Somos campeões da qualidade"



Três jogadores estiveram a treinar com os seniores…Por isso é que acho que foi uma época extraordinária. Não só trabalharam, como está definido que vão integrar o plantel sénior. Conseguimos promover jogadores, a selecção de sub-19 foi apurada para a fase final do Europeu com seis ou sete jogadores nossos e fomos campeões nacionais com uma grande equipa. Concretizámos tudo o que tínhamos definido como objectivos.



O facto de Ventura, Castro e Rui Pedro estarem sob o foco da Imprensa não criou mais pressão?Isso ajudou-os a crescer. Mas a nós treinadores e a todos os responsáveis de outras áreas do departamento de formação cabe-nos trabalhar o melhor possível no sentido de isso não se fazer visualizar pela negativa.



Além destes, dos juniores podem sair outros para a equipa principal?



Há um grupo de jogadores com qualidade e com legitimidade para ambicionarem o futebol de elite.



O título é uma rampa de lançamento?



Sim. A história faz-se dos vencedores, nunca dos vencidos. Se provaram que eram os melhores é porque têm qualidade. Ninguém ganha nada se não tiver qualidade."
Susana Silva in JN