Luís Castro
"O objectivo é formar jogadores à Porto"
TOMAZ ANDRADE
Depois de uma carreira pouco brilhante como jogador, Luís Castro enveredou pela carreira de treinador, passando a ser mais conhecido com o trabalho desenvolvido no Penafiel. Há cinco meses foi convidado para dirigir a formação do FC Porto e os primeiros reflexos começam a aparecer.
A subida de Castro ao plantel principal do FC Porto pode ser já entendida como resultado da reestruturação da formação do clube?
Acho que é a continuação de um processo. Mas hoje em dia, da forma como o futebol está e é encarado, está-se a dar um pouco mais de visibilidade a todos os que saem da formação. É um olhar diferente sobre o fenómeno.
Talvez porque se fala mais de jogadores que saíram há pouco das equipas de base, sendo o Sporting o exemplo maior?
Talvez. A Selecção Nacional de Sub-19 tem entre sete e oito jogadores do FC Porto, o que quer dizer que a formação do clube tem sido feita com qualidade. Tenho de dizer que procuro dar um cunho pessoal ao processo de formação. É uma realidade que os jogadores do FC Porto são uma presença assídua nas selecções e estavam até aqui num processo diferente daquele que é encarado por outros clubes, que os fazem subir de forma directa para a equipa A. O FC Porto tinha outro caminho, que era o de pegar nos jogadores em fase de transição e colocá-los noutros clubes, e vamos continuar a fazê-lo, de maneira a que atinjam um estado de maturação. Temos jogadores no Leiria, Portimonense, Académica, Tourizense, em diferentes níveis para atingirem determinados estados de maturação.
É caro formar um jogador em Portugal?
É um esforço muito grande. Não sei quantificar em números, mas é caríssimo, embora fique claramente mais em conta do que ir contratar a outro lado. Ao formarmos, fazemo-lo com a nossa identidade, cultura, com aquilo que entendemos que deve ser um jogador à Porto. É esse jogador que queremos formar.
O que é um jogador à Porto?
Será sempre um jogador agressivo, com uma ambição muito grande, bem posicionado em campo, com transições fortes, bem dotado tecnicamente e com grande espírito de sacrifício.
"Trabalhámos nas posições deficitárias"
Há uma articulação entre a formação e a equipa principal no sentido de ser trabalhado um determinado modelo de jogo?
É nossa intenção dotar os jogadores com uma cultura própria para fazer face a todos os sistemas tácticos. Era muito redutor preparar um jogador para um único sistema. Não faz sentido. O fundamental é que seja portador de todos os princípios de jogo necessários à inserção em qualquer modelo. E os jogadores do FC Porto estão preparados para isso.
Será que se pode falar de um laboratório na formação tendo em conta as necessidades da equipa principal?
Podemos e vai-se fazer. Sabemos que Portugal está deficitário em defesas-esquerdos, pontas-de-lança. Há um gabinete no FC Porto que é fundamental em todo este processo e que tem sido um grande apoio para a formação, que é o gabinete de prospecção e observação, que tem detectado valores para esses lugares que no futuro achamos que servirão o FC Porto.
O clube tem um gabinete pedagógico. Como funciona?
Há jogadores que manifestam problemas, desde o foro emocional a frustrações, e têm acompanhamento. Esse gabinete é formado por um director pedagógico, três psicólogos e um assistente social. Problemas escolares, de isolamento e que são detectados pelos treinadores são direccionados para esse gabinete, que funciona muito bem.
Quais são os jogadores da formação que estão mais perto de subirem ao plantel principal?
Há jogadores que estão a trabalhar na equipa principal [Ventura e Castro] e isso são claros sinais dessa proximidade. Mas nem todos vão subir, é uma percentagem diminuta.
Que percentagem?
Talvez dez por cento. Mas estou mais preocupado com a qualidade que possam ter para desenvolverem a profissão no futuro.
Os dirigentes falam em apostar na formação e em muitos casos os efeitos práticos são nulos...
No FC Porto há uma estratégia definida. Mas o jogador só pode subir à equipa principal se tiver qualidade. Estarmos a forçar uma subida para efeitos estatísticos não é bom. A cultura Porto é de vitória. É impensável estarmos 18 anos e ter um ou dois títulos. Pode acontecer a outros clubes, para nós é impensável. Temos de fornecer qualidade.
Para subir ao plantel principal
Qualidade é fundamental
No passado, o FC Porto optou mais pela distribuição de jogadores por vários clubes quando estes acabavam o processo de formação de base, mas agora a tendência começa a ser invertida. As subidas ao plantel principal são mais frequentes. "Este ano podemos colocar um ou dois jogadores e para o ano não colocar nenhum. Vai depender sempre da qualidade do jogador. Não queremos fazer isto de uma forma forçada. Queremos é que haja uma confiança absoluta do treinador no fornecedor, no caso a formação do FC Porto. Queremos um jogador com uma determinada identidade, que achamos que deve ter para jogar na equipa A, e que o treinador tenha confiança na formação", esclareceu Luís Castro.
Para André Castro evoluir melhor
Acompanhamento técnico e psicológico
O médio Castro é o nome mais recente no plantel principal oriundo da formação. Depois de atingir esse patamar, um jogador não é esquecido. "Damos-lhe um acompanhamento para que possa desenvolver as suas capacidades. Vai haver uma adaptação gradual à equipa A para que quando for utilizado possa estar identificado com um processo novo. Este processo é acompanhado por vários departamentos que estão adjacentes a este trabalho, como o departamento pedagógico, a equipa médica e a direcção técnica", explica Luís Castro.
"Queremos recrutar jogadores com menos de 14 anos"
Como se detecta um jogador?
Um bom jogador é aquele que joga com todas as partes do corpo, ágil, veloz e tecnicamente evoluído. Com estas características percebemos que há um talento, depois é ver se serve mais a defesa, o meio-campo ou o ataque.
E onde se vai buscar um jogador assim?
Temos uma rede de observadores espalhada pelo país, denominados observadores locais, que passam a informação para o gabinete de prospecção e observação. Desencadeia-se assim o processo, apertando a malha até ao recrutamento. Cada vez menos vamos buscar jogadores para além dos 14 anos. Queremos recrutá-los em idades mais baixas e dar-lhes a nossa identidade.
É frequente haver erros de avaliação, aparecendo jogadores em outros clubes que tenham sido rejeitados pelo FC Porto?
Para vir para o FC Porto um jogador vai dar alguma coisa. Pode é haver uma estagnação. Para jogarem têm de perceber o jogo. Há alturas em que percebem-no e é aí que sentimos que dão o passo em frente.
Educação é fundamental
A par da formação, o FC Porto investe também na educação. O conceito é absolutamente essencial para o director técnico da formação portista. "Não concebo dentro do clube um jogador, seja em que idade for, que não estude. É impensável. Os jogadores Porto estudam todos. O meu objectivo enquanto director da formação é que quando esteja em idade de transitar para a equipa principal esteja à beira da universidade, no 12º ano. Sabemos que podem falhar a ascensão mas têm que ter alguma coisa. Um jogador social e culturalmente evoluído será sempre melhor, ao passo que um apenas com a componente técnica será muito frágil".
Físico não conta
Prioridade à parte técnica e táctica
Na formação de um jogador há duas componentes essenciais: a técnica e a táctica. Ao contrário do que possa parecer, a parte física não é essencial, ao contrário do sugerido por José Mourinho quando era treinador do FC Porto, exigindo laterais altos. "Há dois factores de rendimento que estão no topo, que são o técnico e o táctico. Não há problemas quanto à parte física. Na formação não olhamos à altura. O próprio jogo dá essa componente física. A parte psicológica também é fundamental", diz o director técnico da formação.
in o JOGO
afsO Braga entrou melhor e nos primeiros 15/20 minutos esteve melhor que o Porto, conseguindo os seus desiquilibrios pelo lado direito (esquerdo do Porto), fruto da falta de rotina do Graça a lateral esquerdo. O golo do Braga surgiu de um pontapé de canto, apesar da altura dos 2 centrais do Porto a bola sobrou para um jogador do Braga que à entrada da área rematou sem hipóteses para Ventura. A partir do golo o Braga retraiu-se um pouco, passando a jogar em puro contra ataque.
O Porto na 1ª parte jogou mais ou menos assim. Os 3 avançados encostavam à linha defensiva do Braga (Tiago, Candeias e Ukra), a estes ainda encostava o Fredson e por vezes ainda o Castro. Bola era colocada num dos centrais (Bura ou Pinto) e pontapé longo para as costas da defensiva contrária com os avançados em constantes piques em busca da bola. A vantagem é que quando corre bem, o passe e a desmarcação, cria muitas vezes perigo, mas quando corre mal, por exemplo o passe é interceptado pela defensiva contrária, as segundas bolas são quase sempre ganhas pelo Braga pois tem o meio campo preenchido com 3/4 jogadores contra 1 ou 2 do Porto. Na primeira parte o Edson, a jogar a pivot defensivo, andou um pouco às aranhas, fruto do facto de estar quase sempre em desvantagem numérica.
A defesa vacilou em algumas situações fruto da qualidade do ponta de lança do Braga (bom jogador) e do facto de ter jogado contra o sol, o que incomodava claramente a disputa das bolas aéreas.
Na primeira parte a única oportunidade de golo do Porto esteve nos pés de Candeias, isolado em velocidade permitiu a defesa do guardião Bracarense. Uma primeira parte fraca de parte a parte, após o golo o Braga encolheu-se e o Porto nunca conseguiu ser verdadeiramente superior. É engraçado que o Porto nunca faz grandes primeiras partes, aconteceu na Feira, em Vila do Conde e agora em Braga.
Após o intervalo tudo se alterou. O Porto apareceu com outra atitude e com outra dinâmica, marcou um golo também num pontapé de canto com Bura a fazer valer a sua presença fisica e a ganhar nas alturas a um cacho de jogadores com guarda redes incluido. Depois do golo o Porto continuou ao ataque, e este período correspondeu à melhor fase do Porto, onde criou 2 grandes oportunidades de golo. Então uma delas é verdadeiramente escandalosa. A bola foi metida nas costas da defesa, esta ficou parada e o redes hesita e fica na baliza, o Freson completamente isolado, com tempo para tudo e com a bola a saltitar na zona do penalty e o redes a meio da saída tenta o chapéu e a bola passa por cima da baliza, quando o que se pedia era que enchesse o pé e fuzilasse pois a bola estava perfeita para isso.
A primeira meia hora da segunda parte foi completamente dominada pelo Porto, com algumas tentativas de contra ataque do Braga sem criarem grandes problemas à nossa defensiva. O Porto não aproveitou o seu melhor período para matar o jogo e o Braga esboçou nos últimos 10 minutos uma derradeira tentativa para chegar ao golo, e ainda enviou uma bola ao poste nos últimos minutos do encontro. O empate acaba por ser justo, o Porto criou mais e melhores oportunidades de golo e podia e devia ter vencido, o Braga deu grande réplica e também podia ter vencido quase a acabar o jogo, pelo que o empate é aceitável.
Análise dos jogadores
Ventura - Revela uma calma que em certos momentos enerva, esteve seguro entre os postes, e sempre que foi chamado a intervir fe-lo com segurança. Revela alguma insegurança nas saídas aos cruzamentos.
André Santos - Em evidência nas tarefas defensivas, fechou bem o seu flanco. Raramente perdeu um lance. Foi substituido quando apresentou caibras. Sem deslumbrar foi certinho e bateu-se bem em todo o jogo.
Bura - Dificuldades surpreendentes no jogo aéreo talvez devido ao sol que estava de frente. Não sendo dos seus melhores jogos subiu bastante de produção no segundo tempo. Fez o golo fazendo uso do seu poderoso jogo aéreo. Abusa dos lançamentos longos.
André Pinto - Comentário idêntico ao do seu colega do eixo da defesa. Este titular é junior de primeiro ano.
Graça - Não conseguiu acertar as marcações com o extremo que lhe apareceu pela frente, e o perigo do Braga veio sempre pelo seu flanco. Gosto mais de o ver a meio campo.
Edson - Jogou a pivot defensivo onde eu penso que é o seu habitat natural . Na primeira parte sentiu mais dificuldades, dobrou algumas vezes o Graça e não raras vezes esteve em desvantagem numérica, mas nunca virou a cara à luta. Na segunda parte subiu muito de produção cotando-se como um dos melhores do Porto, sobretudo na recuperação da bola.
Castro - Na primeira parte não existiu, esteve muito pouco em jogo, também porque foi alvo de marcação apertada. Na segunda parte acompanhou a subida da equipa mas ficou longe daquilo que nos tem habituado.
Fredson - Teve a responsabilidade de substituir o Rui Pedro na posição 10 e desiludiu. Na primeira parte conseguiu estar mais ausente que o Castro. Na segunda parte melhorou um pouco embora tenha estado aquém daquilo que pode e deve fazer. Podia ter morto o jogo na melhor oportunidade do encontro.
Ukra - Passou um pouco ao lado do jogo, nunca conseguiu imprimir grande velocidade ao seu jogo, nem conseguiu desequilibrar. Acabou o jogo a lateral direito após a saída do André Santos.
Candeias - Bom jogo do Candeias. O "dragão" mais inconformado, em toda a partida. A maioria dos lances de desequilibrio vieram da sua velocidade. Este miúdo é mesmo muito rápido. Este tipo de jogador tem condições naturais únicas, não pode nem deve ser desaproveitado, e merece do Jesualdo Ferreira uma oportunidade.
Teve uns jogos menos bons, saiu da convocatória, foi para o banco e parece que o "tratamento" lhe fez muito bem.
Tiago - Este é um tipo de jogador que gosto, podem as coisas não sairem bem mas a entrega é sempre a mesma. Corre, trabalha, bate-se bem com os centrais adversários, mas neste jogo não teve nenhuma oportunidade para marcar.
Rui Pedro - No pouco tempo que esteve em campo deu para perceber a importância que tem na equipa. É o jogador dos desequilibrios. É um jogador completo, só tenho pena que não seja mais explosivo.
Hugo Monteiro - Entrou para fechar o lado esquerdo e ajudou a segurar o empate.
Melhores do Porto: Candeias (MVP) e Edson.
Melhor do Braga: O ponta de lança é muito valente. Pôs em sentido os 2 centrais do Porto durante todo o jogo.